Yuno Silva - repórter
A medida que o tempo passa, novas formas de encarar antigos suportes se descortinam em um movimento contínuo de retroalimentação; e a partir dessa percepção, as tradicionais xilogravuras ultrapassam a fronteira do tempo e ganham contornos contemporâneos na mostra "SP Estampa 2012". A segunda edição do evento acontece simultaneamente em sete cidades do país e abarca não só as gravuras como também outras linguagens das artes visuais como estêncil, fanzines, arte sequencial, vídeos e instalações, de artistas de várias partes do Brasil e exterior - entre eles quatro potiguares: Alexandrina Viana, Artur Souza, Kayo Galvão e Pedro Ivo, representantes da coletiva "Combinatórias Gráficas".
A participação dos potiguares na "SP Estampa 2012" se deu a partir da seleção de um projeto. "Para a etapa nacional, optamos por estruturar uma proposta coesa, com esses quatro artistas que apresentam um trabalho autoral maduro", disse a professora Laurita Salles, coordenadora e curadora da exposição coletiva "Combinatórias Gráficas", sobre a escolha dos nomes. Na versão local, outros artistas também são incorporados à mostra. O grupo integra o grupo de pesquisa em cultura visual "Matizes", da UFRN, coordenado pelo professor Everardo Ramos.
Para Laurita, "é importante mostrar aos alunos que há espaço para trabalhos autorais com possibilidades reais de serem expostos em outros lugares", verificou a curadora.
Séries artísticas dialogam entre si
O projeto dos artistas do RN enviado à Galeria Gravura Brasileira, em São Paulo, foi elaborado a partir de séries e coleções organizadas em publicações denominadas "livro de artista", espécie de portfólio que traz descrição do conceito do trabalho acompanhada das reproduções das obras. Artur Souza e Kayo Galvão formataram conjunto de xilogravuras; Pedro Ivo, visto como um dos grafiteiros mais atuantes de Natal, reuniu fotografias de seus trabalhos espalhados pela cidade; enquanto Alexandrina Viana concebeu animação no formato 'flipbook' - desenhos sequenciais que ganham movimento a partir do ato de folhear rapidamente páginas.
"Os trabalhos fazem parte de um conjunto, há uma unidade entre cada série de obras", explica Laurita Salles. "Existe um diálogo articulado entre as imagens, que formam um sistema", complementa, ressaltando que nesta segunda edição não haverá atividades fora da galeria. Vale lembrar que no ano passado, o grupo de potiguares que participou do "SP Estampas 2011" realizaram intervenções urbanas concentradas na estação e nos vagões de trens da CBTU.
PESQUISAS
O artista Artur Souza apresenta uma série de xilos que tratam da relação que existe entre a arquitetura e a gravura. Ele descreve seu trabalho como "parte das pesquisas no campo da gravura e gráfica expandida, na incorporação da escala como resultante da integração entre sujeito-estampa, como metáfora da relação escala humana e arquitetura (espaço construído). A gravura se apresenta a partir de sua tradição planar em oposição a criação de um espaço tridimensional".
"Apesar da existência da conexão, essas relações com o ambiente, mesmo projetadas em escala humana, acabam não se materializando devido as gravuras serem bidimensionais. Não há uma intenção figurativa, o objetivo é desconstruir as formas", esclarece Souza.
Questionado sobre a utilização da xilogravura, técnica tradicional onde o desenho é esculpido em um bloco (geralmente) de madeira, como um 'carimbo', bastante difundida através dos livretos de cordel, Artur avalia que essa "releitura caracteriza a arte contemporânea e aproxima algo tradicional para nosso tempo".
Serviço: Projeto "SP Estampa 2012", exposição coletiva "Combinatórias Gráficas". De 7 a 11 de maio, na galeria do Departamento de Artes da UFRN - visitação de segunda a sexta-feira, das 12h às 20h. Informações: 3215-3550.
Fonte:tribuna do norte
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