Palácio do Planalto se opõe à venda da Cosern a chineses
Grupo espanhol Iberdrola está negociando a venda dos 39% que detém no capital da Neoenergia, que controla a Cosern.
A companhia espanhola Iberdrola está negociando, com a chinesa State
Grid, a venda de sua participação acionária na holding Neonergia, que
controla três distribuidoras de energia elétrica e um parque gerador no
Brasil.
As tratativas surpreenderam os acionistas controladores
da holding, o fundo de pensão Previ e o Banco do Brasil (BB), donos dos
outros 61%, segundo divulgou na edição desta segunda-feira (14) o jornal
Valor Econômico. A Iberdrola também discutia a venda de sua
participação, equivalente a 39% das ações, com empresas da Alemanha e
americanas.
O governo não quer a entrada dos chineses, assim como
não aprovou o aumento da participação dos espanhóis nessa companhia
elétrica, negociada no ano passado entre Iberdrola, BB e Previ. Para
impedir a entrada dos chineses, os sócios brasileiros podem, inclusive,
ir à Justiça. "Sem essa benção [de Brasília] vai ser difícil", analisou
uma pessoa próxima às discussões.
A assessoria de imprensa da
State Grid no Brasil confirmou que a empresa tem interesse na
participação acionária dos espanhóis e já teve reuniões de trabalho com a
Iberdrola. O grupo chinês contratou auditores para fazer uma avaliação
das contas da Neoenergia ("due diligence").
A venda da fatia da
Iberdrola na Neoenergia representa uma guinada em relação à situação do
início do ano, quando o grupo espanhol tinha a intenção de assumir o
controle acionário da companhia, que controla as distribuidoras Cosern,
Celpe (PE) e Coelba (BA), além de um grande parque gerador de mais de
1.500 megawatts (MW).
Pelas negociações, os espanhóis comprariam
a parte do BB e um pedaço da participação da Previ. O BNDES, por sua
vez, também poderia entrar no capital, ficando com uma participação
acionária de até 15%.
Depois de um ano de conversas, as partes
chegaram a um acordo quanto a preço, mas o Palácio do Planalto não deu o
sinal verde e, por isso, o acerto não foi concluído. Em alguma medida, a
conjuntura internacional prejudicou o desenlace, mas, mais do que isso,
pesou a rejeição da presidente Dilma Rousseff, que não gostaria de ver o
controle da empresa desnacionalizado, segundo fontes ouvidas pelo
Valor.
Agora, os espanhóis decidiram vender sua participação e
há a expectativa de que estejam tentando fazer isso a um preço superior
ao que pagariam pelas participações da Previ e do BB. Pelo acordo de
acionistas da Neoenergia, os dois entes ligados ao governo (Previ e BB)
têm direito de preferência sobre as ações da Iberdrola, mas, se ambos
não quiserem pagar o preço oferecido pelos chineses, os espanhóis podem
vendê-las a quem estiver interessado.
O governo, entretanto,
quer que Previ e BB resistam à venda aos chineses. De certa maneira, as
circunstâncias atuais deixam os dois acionistas nacionais reféns da
situação. Segundo uma fonte próxima das negociações, um desenlace em
torno do controle da Neoenergia pode ser uma questão de tempo: a entrada
em vigor na Europa do novo sistema de contabilização de balanços, o
IRFS.
No início do mês, a Neoenergia divulgou comunicado no qual
a Iberdrola reconheceu que estava "examinando diferentes alternativas
estratégicas com relação à sua participação societária no capital social
da Neoenergia." A nota esclareceu, porém, que até aquele momento não
havia decisão tomada sobre sua participação societária nem sobre
qualquer acordo vinculante que "enseje a divulgação de qualquer
informação relevante ao mercado".
A estatal State Grid, maior
companhia de transmissão e distribuição de energia da China, entrou no
Brasil ao comprar o controle de sete das 12 empresas da Plena
Transmissoras, controlada das espanholas Elecnor, Isolux e Cobra. Pagou
R$ 3,1 bilhões pela concessão dos 3 mil km de linhas (incluindo R$ 1,3
bilhão de dívidas).
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