Lotação no Hospital da Mulher é ocasionada pela falta de atendimento na Casa de Saúde Dix-sept Rosado. Gestantes relatam drama à espera de um leito.
Preocupada com a situação das gestantes que buscam atendimento em Mossoró, Rejane Miranda da Silva faz um apelo: “Eu só queria pedir socorro às autoridades”. O pedido foi feito ontem, 16, quando acompanhava a filha Janderlene Miranda da Silva, internada no Hospital da Mulher Parteira Maria Correia para o parto do seu primeiro bebê, já sem vida no sétimo mês de gestação. “Não por ela, porque ela já está pertinho de sair, mas pelas outras”, complementou Rejane.
“É um caos”, disse, em relação à situação da unidade. Segundo ela, a filha, que estava no sétimo mês de gestação, saiu do trabalho às 17h e ao chegar ao hospital a criança já estava sem vida no útero da mãe. Além do trauma psicológico, em decorrência da demanda elevada do HM, Janderlene ainda teve que esperar horas sentada até que surgisse um leito para onde pudesse ser encaminhada e aguardar o final do procedimento. “Passou a noite nessas cadeiras aqui sentada. Até agora às 14h [ontem] estava sentada entre essas cadeiras e as cadeiras lá de dentro”, diz a mãe de Jaderlene. “Eu queria ter dinheiro, porque um parto é R$ 5 mil”, menciona Rejane, acrescentando que se tivesse condições financeiras a filha teria sido levada para uma unidade particular.
A reclamação de Rejane não é com relação ao atendimento dos profissionais. Ela diz que os médicos fizeram o possível, a questão é a falta de estrutura. Ela conta que a filha estava com dores e a médica disse que iria prescrever uma medicação para estimular o parto. A prescrição do medicamento, no entanto, só poderia ser feita quando houvesse uma sala disponível para a realização do parto, coisa que ainda não tinha ocorrido até as 17h de ontem.
A avó de Júlia Gabrielle, como se chamaria a primeira filha de Janderlene, reforça o apelo. “Só pedir às autoridades que olhem para quem está aqui dentro. Se for possível, implorar, porque eles têm condições de fazer”, desabafa Rejane.
De acordo com a enfermeira Janaine Oliveira, Janderlene Miranda da Silva entrou no Hospital na segunda-feira passada, 15, às 18h18, com queixa de ausência de movimento fetal. Na noite da segunda foi feita uma ultrassonografia, que identificou o óbito do feto.
Janaine Oliveira explica que quando o bebê não está mais vivo dentro do útero há dois tipos de procedimentos. Um deles é a indução do parto normal que, segundo ela, é o procedimento mais indicado por ser mais seguro para a mulher, independente da situação do hospital, e o segundo é a cesariana, que é um procedimento mais rápido.
A enfermeira diz que a paciente ficou internada na sala de observação até que surgisse uma vaga. No setor, até mesmo as duas camas existentes têm que ser disponibilizadas para as gestantes com quadros mais graves, como pressão arterial elevada. Em condições de funcionamento normal do HM, a paciente seria encaminhada para um leito, onde pudesse ter mais privacidade, pois o próprio procedimento, segundo Janaine Oliveira, já traz desconforto e dores.
“Não houve negligência”, afirma a enfermeira.
“Agora, realmente, a gente vem sofrendo muito com a questão de vagas”, conta Janaine Oliveira. “A gente vive aqui pedindo a Deus para abrir a Dix-sept Rosado”, acrescenta.
Para se ter ideia da demanda, a enfermeira informa que em 24 horas foram mais de 45 atendimentos. Das 7h da segunda-feira, 15, às 7h de ontem, 48 mulheres foram atendidas no Hospital da Mulher. Desse total, 23 atendimentos resultaram em internação para diferentes tipos de procedimentos, entre cesarianas, duas curetagens e outros. Normalmente, segundo a enfermeira, seriam oito internações ou dez, em dias mais atípicos.
A situação começa a afetar os servidores. “A gente está começando a adoecer”, conta a enfermeira.
Além disso, na noite da segunda-feira passada o material disponível à equipe era apenas para os casos mais graves.
Fonte:Gazata do Oeste
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