domingo, 13 de maio de 2012

Aprendendo a conviver com a seca

Planos e propostas foram muitos, alguns elaborados já no fim da segunda metade do século XIX e, agora, já no começo do século XXI, estudiosos do fenômeno natural da seca convergem para uma mesma opinião: convivência.
 Aos 83 anos, a professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Terezinha de Queiroz Aranha,  continua sem abrir mão de suas ideias, construídas ao longo dos anos de estudo sobre a seca, que começou a vivenciar na tenra idade, quando ouviu falar da carta que o avô Manoel Avelino dos Santos mandou para Getúlio Vargas, nos anos 40,  pedindo que não construísse a barragem da Oiticica, em Jucurutu, "porque iria expulsar os pequenos agricultores de suas terras". Já nos anos 50 passou a ter interesse no assunto: "O primeiro saque que vi, meu pai, Francisco Alves de Queiroz, era prefeito de Pendências", lembra.

Décadas se passaram e a barragem da Oiticica ainda é um projeto que não saiu do papel e dos escaninhos palacianos. Apesar de órgãos criados exclusivamente para desenvolver o semiárido nordestino, como o Dnocs e a Sudene, segundo ela, "falta vontade política" para implementação das ações de "convivência" e não de "combate à seca", como durante anos se convencionou chamar as diretrizes públicas para minimizar os prejuízos econômicos e sociais causados por esse fenômeno natural: "Tenho esperança de que um dia não se veja mais água distribuída por carro-pipa".

"A seca é uma moeda de duas faces, político e climático", asseverou Terezinha Queiroz, que critica a "descontinuidade" e "falta de planejamento" das ações públicas, da mesma forma que nos anos 80 posicionou-se contra as obras da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no Vale do Açu, porque estava sendo construída sobre uma falha geológica.

Agora, ela acha desnecessária a construção da barragem da Oiticica, porque só vai aumentar o volume da barragem  Armando Ribeiro Gonçalves, cuja capacidade de armazenamento é de R$ 2,6 bilhões de metros cúbicos de água, mas que em período chuvoso, com a abertura das comportas, alaga as terras agricultáveis do Baixo-Açu: "Quando vem água demais a barragem dá prejuízo, nunca vi uma coisa tão contraditória", avalia.

Como as ações governamentais "não se complementam e não se realizam", a professora Terezinha Queiroz, que foi fundadora e hoje é consultora do Núcleo Temático da Seca (Nut-seca) da UFRN, acha que a tendência dos problemas causados nos períodos de seca tendem  a piorar, em virtude do agravamento das condições climáticas e ambientais por causa da destruição da camada de ozônio na atmosfera, que protege o planeta das irradiações solares.

Ela lamenta que professores universitários não tenham  se debruçado mais constantemente sobre os estudos da seca, que nos anos de maior atuação do Nut-seca envolvia mais equipes multidisciplinares. Terezinha Queiroz até sugere que a área de extensão universitária da UFRN podia escolher um determinado município para executar um projeto piloto de pesquisa sobre a seca e daí tirar ações exitosas que pudessem ser levados para outros municípios do semiárido do Rio Grande do Norte, que hoje conta com 139 municípios com a situação de emergência reconhecida pelo governo federal.

Terezinha Queiroz ainda lamenta que  não tenha vingado, por exemplo, o "Projeto Rio Grande do Norte", que só gerou, dentro da UFRN, o estudo "A Problemática da Seca no RN", que resultou na experiência do Nut-Seca, o qual, chegou a dizer em 2005, já estava com a sua energia adormecida.

"Talvez pouca gente acredite no imenso potencial de informação existente em suas estantes, suas caixas e seus arquivos", afirmara ela, na época, a respeito de um material que "assegura o estudo da seca nos aspectos climáticos, legais, políticos, contábeis, econômicos, administrativos, artísticos, culturais e ambientais".

Fonte:tribuna do norte

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