quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um pouco de cultura


Filme Xingu faz crítica ao conceito de civilidade

 

 A grandiosidade do filme "Xingu" (O2 Filmes/Globo Filmes) surpreende e emociona mesmo quem chega com fartas doses de expectativa às sala de cinema. Apostando alto, e de forma certeira, no tom épico-histórico, o longa metragem dirigido por Cao Hamburguer (da série televisiva "Cidade dos Homens" e do infantil "Castelo Rá-Tim-Bum") narra de forma poética - mas sem pieguices, estereótipos ou fanatismo ambiental - a trajetória dos irmãos Villas-Bôas pelas entranhas de um Brasil ainda desconhecido em plena década de 1940.

 Vidrados na possibilidade de viverem uma grande aventura durante a expedição Roncador-Xingu, motivo que apesar de ser retratado de forma simplista no filme não compromete o resultado, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas, vividos na telona, respectivamente, por Felipe Camargo, João Miguel (de "Estômago" e "Cinema, Aspirinas e Urubus") e Caio Blat, personificam desbravadores que trocam o conforto urbano de São Paulo, o paletó e a gravata pela desconhecida selva verde-amarela. O trio viria a ser os primeiros caras-pálidas a compreender as dimensões, a complexidade, a riqueza cultural e a necessidade de se preservar toda uma nação indígena, e comprovam não haver limites quando se age com dedicação, compromisso e desprendimento em prol de uma causa.

 Responsáveis diretos pela criação de uma das maiores reservas indígenas do mundo, os Villas-Bôas questionam os limites do "desenvolvimento a qualquer preço" e esbofeteiam com luva de pelica a dita 'sociedade civilizada'. "Nós somos o antídoto e o veneno", diz João Miguel/Cláudio Villas-Bôas, dos três irmãos o mais idealista e o mais consciente da contradição da expedição ao Brasil central.

Sem exaltar heroísmos ou supervalorizar os personagens, perfeitamente suscetíveis à falhas e passíveis a erros como qualquer ser humano 'normal', "Xingu" traz como pano de fundo reflexões sociais, antropológicas e culturais ao lidar com a questão indígena de maneira respeitosa e mostrando de forma direta os riscos de encarar realidades diferentes com insensibilidade, preconceito e intolerância. 

 É a partir dessa carga emocional, e da sapiência de ser baseado em fatos reais, que se intensifica a relevância do filme, que não cai na armadilha de ser professoral nem deixa de lado o viés de entretenimento - afinal, a produção que custou cerca de R$ 16,3 milhões não é um documentário nem tenta dar lição de moral em ninguém, porém não esconde suas intenções de exaltar o grande feito que foi a criação do Parque Nacional do Xingu em 1961.

"Xingu" estreou em novembro do ano passado durante o Amazonas Film Festival, e vem contabilizando participações em festivais internacionais importantes como o de Berlim (Alemanha), realizado em fevereiro.

Fonte:tribuna do norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário