A grandiosidade do filme "Xingu" (O2 Filmes/Globo Filmes) surpreende e
emociona mesmo quem chega com fartas doses de expectativa às sala de
cinema. Apostando alto, e de forma certeira, no tom épico-histórico, o
longa metragem dirigido por Cao Hamburguer (da série televisiva "Cidade
dos Homens" e do infantil "Castelo Rá-Tim-Bum") narra de forma poética -
mas sem pieguices, estereótipos ou fanatismo ambiental - a trajetória
dos irmãos Villas-Bôas pelas entranhas de um Brasil ainda desconhecido
em plena década de 1940.
Vidrados na possibilidade de viverem uma grande aventura durante a
expedição Roncador-Xingu, motivo que apesar de ser retratado de forma
simplista no filme não compromete o resultado, Orlando, Cláudio e
Leonardo Villas-Bôas, vividos na telona, respectivamente, por Felipe
Camargo, João Miguel (de "Estômago" e "Cinema, Aspirinas e Urubus") e
Caio Blat, personificam desbravadores que trocam o conforto urbano de
São Paulo, o paletó e a gravata pela desconhecida selva verde-amarela. O
trio viria a ser os primeiros caras-pálidas a compreender as dimensões,
a complexidade, a riqueza cultural e a necessidade de se preservar toda
uma nação indígena, e comprovam não haver limites quando se age com
dedicação, compromisso e desprendimento em prol de uma causa.
Responsáveis diretos pela criação de uma das maiores reservas indígenas
do mundo, os Villas-Bôas questionam os limites do "desenvolvimento a
qualquer preço" e esbofeteiam com luva de pelica a dita 'sociedade
civilizada'. "Nós somos o antídoto e o veneno", diz João Miguel/Cláudio
Villas-Bôas, dos três irmãos o mais idealista e o mais consciente da
contradição da expedição ao Brasil central.
Sem exaltar heroísmos
ou supervalorizar os personagens, perfeitamente suscetíveis à falhas e
passíveis a erros como qualquer ser humano 'normal', "Xingu" traz como
pano de fundo reflexões sociais, antropológicas e culturais ao lidar com
a questão indígena de maneira respeitosa e mostrando de forma direta os
riscos de encarar realidades diferentes com insensibilidade,
preconceito e intolerância.
É a partir dessa carga emocional, e da sapiência de ser baseado em fatos
reais, que se intensifica a relevância do filme, que não cai na
armadilha de ser professoral nem deixa de lado o viés de entretenimento -
afinal, a produção que custou cerca de R$ 16,3 milhões não é um
documentário nem tenta dar lição de moral em ninguém, porém não esconde
suas intenções de exaltar o grande feito que foi a criação do Parque
Nacional do Xingu em 1961.
"Xingu" estreou em novembro do ano
passado durante o Amazonas Film Festival, e vem contabilizando
participações em festivais internacionais importantes como o de Berlim
(Alemanha), realizado em fevereiro.
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