O Ministério da Educação (MEC) divulgou apenas nesta terça-feira (08) a pontuação obtida pelos alunos, que ainda não concluíram o ensino médio, os chamados 'treineiros', no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015. A medida polêmica faz parte de uma série de ações do MEC para tentar limitar o acesso à universidade somente a alunos da terceira série do ensino médio. O potiguar Frederico Andrade Monteiro Filho, de 17 anos de idade, está entre os alunos que só descobriram agora a sua colocação no Enem.
O estudante do Over Colégio e Curso, que na época cursava a segunda série, comenta que foi com tristeza que recebeu a notícia. “Pra mim foi uma situação super triste. Passei anos estudando muito, me dedicando ao máximo e por causa dessa medida do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) pessoas que tinham capacidade para cursar uma universidade não conseguiram”.
Com o sonho de cursar Medicina, o estudante foi um dos poucos a obter a pontuação máxima na redação do Enem – em todo o Brasil foram 105 alunos. Além da redação, Frederico Andrade teve uma pontuação excelente nas demais provas do Enem. Se sua nota tivesse sido liberada junto com a dos demais candidatos ele teria ficado entre os primeiros lugares de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Quando soube que sua nota só seria divulgada quase dois meses depois, Frederico Andrade deu entrada em um processo na justiça para tentar garantir o direito de ver a sua pontuação antes do prazo. O estudante diz ter conseguido reunir todos os documentos necessários que atestavam sua maturidade para cursar uma universidade e sua competência acadêmica para ser merecedor de uma cadeira no curso de Medicina.
“Pela correção que fiz dos meus gabaritos sabia que tinha conseguido uma nota muito boa. As possibilidades eram grandes que eu passasse. Entrei com um processo para ver a nota e depois abriria um novo processo para tentar poder usar a nota. Mas já não consegui no primeiro. Mostrei minhas notas, minhas boas colocações em olimpíadas que participei, mas o processou caiu. Recorremos, mas tentaram de todas as formas evitar que alunos como eu fizessem isso”.
Para Frederico Andrade, a medida de não permitir que jovens estudantes como ele usem o Enem como porta de entrada para uma universidade é arbitrária. “O embasamento é muito fraco. Alegar questão de maturidade é arbitrário. Maturidade é muito relativo e pela minha idade já era pra estar no Pré, então isso já acaba com o argumento deles de que eu não tenho maturidade. Até porque, isso depende muito da cabeça da pessoa. Eu consegui mostrar que eu tenho maturidade. Se eu me consultar com um psicólogo e ele disser que eu tenho capacidade e maturidade para cursar Medicina, quem são eles pra dizer que não tenho?”.
Sem querer desistir do sonho de ser um Médico, Frederico Andrade agora se dedica a tentar ingressar em uma universidade fora do país. “Está sendo super desgastante esse processo todo, mas quero muito entrar em Medicina. Depois disso mudei minha meta, quero ir pra fora do país. Estou estudando novamente o conteúdo do Enem porque vou fazer a prova de novo esse ano e usar a nota para tentar entrar em uma universidade lá fora”.
Carlos André, professor e diretor do Over, tem acompanhado de perto a polêmica e comenta que já faz algum tempo que o governo tenta impedir o acesso precoce desses alunos. “Nos últimos anos, os casos de debate judicial aumentaram muito porque o aluno passava e entrava na justiça pedindo o direito de entrar na faculdade sem ter terminado o ensino médio. O governo já vinha tentando impedir que isso acontecesse e esse ano fez algo diferente que foi prender a nota dos alunos não concluintes. O resultado do Enem saiu no dia 18 de janeiro, mas o desses alunos só foi liberado agora. Como eles não tinham acesso a nota, não sabiam se tinham passado ou não”.
O governo chegou ao ponto de tomar essa medida pois muitos estudantes estavam conseguindo o acesso para cursos que originalmente não tinham afinidade e acabavam desistindo. Isso prejudicava a eles e ao sistema no geral porque bloqueava as vagas. Porém, explica Carlos André, cada caso é um caso, e radicalizar proibindo todos os “treineiros” de terem o acesso pode também se tornar um problema.
Para o professor, a melhor solução seria mudar o modo como é feita a escolha dos cursos no Enem. “Uma coisa simples que poderia resolver esse problema seria o governo começar a pedir que o aluno escolhesse o curso que vai querer cursar antes de fazer as provas do Enem. No sistema atual essa escolha é feita no momento posterior as provas. Se mudasse essa regra, o problema original seria resolvido, não seria preciso usar ferramentas como essa – impedir alunos que não concluíram o ensino médio – para garantir um melhor ingresso e aproveitamento dos estudantes na universidade.
Já faz algum tempo que Carlos André vem acompanhando de perto a trajetória acadêmica de Frederico Andrade. “Ele sempre foi muito bom na escola. Ele passou um ano se dedicando muito, tentou o acesso antecipado mas não deu certo. Ele teria sido aprovado em Medicina na UFRN, provou que tem capacidade para isso, mas como estava na segunda série quando fez a prova infelizmente foi barrado e vai perder a vaga. Um aluno nosso passou no ano passado com 15 anos no ITA. Ou seja, o ITA aceitou um aluno bem mais novo, enquanto o Frederico não vai poder cursar Medicina na UFRN”.
Fonte:Novo Jornal
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