segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Estiagem faz ressurgir ‘São Rafael’

Olhos desavisados veem apenas ruínas em meio as águas da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves que contrastam com a paisagem seca e castigada. Mas poucos minutos de conversa com ex-moradores e logo todos os espaços da antiga São Rafael são habitados e, milimetricamente, reconstruídos por lembranças. Em 1983, a cidade distante 216 quilômetros de Natal cedeu espaço para a construção do maior reservatório do Estado e a promessa de “progresso”. Cerca de 3,5 mil pessoas foram relocadas para a nova São Rafael, construída 3 quilômetros acima pelo Departamento Nacional de Obras conta as secas (Dnocs).

Trinta anos depois e a pior estiagem nesse período, ruínas da “Atlântida do Sertão”, como ficou conhecida a cidade submersa, vem à tona ao passo em que as águas baixam. Estruturas que permaneciam apenas na memória, como as cruzes e o muro do antigo cemitério, reaparecem e se somam ao que restou da torre da Igreja, que tombou em 2010, e demais escombros da cidade. O progresso, por sua vez, observa o historiador Djalmir Arcanjo “deve ter naufragado nas águas da barragem”.

O reservatório , que abastece 22 municípios do Baixo Açu, está com apenas 38% da capacidade máxima de 2,4 bilhões de metros cúbicos – 916,5 milhões de m3 – o mais baixo desde que foi criado, de acordo com dados da Semarh.

Às margens da barragem, restam os alicerces da Estação de Trem que trafegava entre Assu, Mossoró e cidades vizinhas e do Hotel São Rafael que derivou do alojamento militar. Além de escombros da Prefeitura, Posto de Saúde, duas escolas e Telern, os tanques de água que abasteciam à baldes as caixas d’água dos casarões e prédios públicos - sinal de status à época - também permanecem no local. 


O piso da quadra de esportes, a praça e coreto onde aconteciam os festas e eventos sociais, preservam as tintas. “Aqui aconteciam as festas tradicionais, como da padroeira Nossa Senhora da Conceição. A última, em 1981, entrou para a história dos são-rafaelenses com direito a música de despedida”, lembra a Maria da Conceição da Silva Teixeira, de 60 anos, conhecida como “Ceição de Dudu”.

Ela e o pai, o agricultor Antônio da Silva Teixeira, de 93 anos, retornaram a cidade velha após 30 anos. “É a primeira vez que desço até aqui”, disse. Enquanto aponta a localização exata sob as águas, o sertanejo relembra o dia em que deixaram para trás a casa número 33 na esquina da Rua Manoel Tomaz Pinheiro - a uma rua do leito do rio e a duas atrás da Igreja-matriz. 

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