segunda-feira, 18 de março de 2013

Com próprio negócio, pequenos comerciantes conseguem deixar o Bolsa Família


REI DO PASTEL

Distante 330 km de Felipe e Silvana, Giovani Soares de Paiva, 46, trocou a vida de subsistência como lenhador para ser o "Rei do Pastel" do sertão, em Messias Targino, no interior potiguar. Com a mulher, Lena, 45, e o filho Juan Gustavo, 19, montou uma barraca em frente a sua casa.

A família já faz a conta de como é viver sem ajuda dos cerca de R$ 70 mensais que recebiam do Bolsa Família.

Dona Lena ajuda a fechar o orçamento fazendo faxina na casa de quem precisa --R$ 10 a R$ 20, dependendo de quem pagará a conta.

O "Rei do Pastel" virou atração para os 4.000 habitantes de Messias Targino.

A massa é comprada pronta, de um revendedor de Caicó, cidade próxima, e o produto é frito na hora. São 1.200 pastéis vendidos por semana, a R$ 0,75 cada um. O valor sai do bolso de estudantes e moradores da cidade, que vivem de aposentadoria, do salário de funcionalismo ou de bicos.

As vendas aumentam com as promoções feitas na rádio local, apregoadas em cartazes afixados na fachada da casa ou enviadas por celular -os clientes são catalogados por operadora, e quatro chips dão conta do recado.

"Com o óleo da fritura, faço sabão para o consumo da família e não poluo o ambiente", informa o texto que chega do celular de seu Giovani para o da Folha, assim que a reportagem deixou a cidade.

No vocabulário do empreendedor, que foi fazer cursos do Sebrae no município vizinho para estudar o mercado em que atuaria, já constam palavras e conceitos de quem pensa mais longe: "Se tivesse capital de giro, montaria filial e ampliaria o cardápio".

Felipe, Silvana e Giovani são três dos 244.761 microempreendedores individuais, os MEIs, que foram ou ainda são beneficiários do Bolsa Família, programa de transferência de renda que beneficia famílias em situação de pobreza em todo o país. Foram 13,5 milhões em fevereiro.

Não é possível saber quantos deixaram o programa e passaram a viver com a renda do próprio negócio, mas o Sebrae já identificou essa migração em algumas regiões.

Dos 2,6 milhões de microempresários individuais (formalizados), 9,3% são oriundos do Bolsa Família. "O empreendedorismo é uma porta de saída", afirma Luiz Barretto, presidente do Sebrae. "Se o negócio não der certo, ele tem prioridade para retornar e receber o benefício."

Quase um terço dos empreendedores do Bolsa Família vive nos Territórios da Cidadania, áreas com baixo desenvolvimento que recebem, do Sebrae e do Ministério do Desenvolvimento Social, apoio de agentes de orientação empresarial e de microcrédito.

"São iniciativas que podem ajudar, mas estão longe de resolver a desigualdade regional. O PIB per capita no Nordeste ainda vale 49% do do Sudeste", diz Alexandre Rands Barros, professor da Universidade Federal do Pernambuco, que estuda o tema.

Fonte: Folha de São Paulo/olhar messiense

Nenhum comentário:

Postar um comentário