domingo, 27 de maio de 2012

Teto da Casa da Estudante desaba e espaço está sob ameaça de interdição

Entrar na Casa da Estudante de Natal, na Cidade Alta, pode ser considerada uma verdadeira viagem no tempo. Os ares de antiguidade do imóvel estão impregnados não só nas madeiras, sofás, portas, portões e em todo seu visual, mas principalmente pela conservação – inexistente – do espaço, que mais parece um casarão abandonado. Pedaços dos muros caindo, paredes rachadas, telhado de madeira corroído por cupins – que também estão espalhados pelas paredes, nos birôs e camas -, salas cheias de rachaduras e mofos são o retrato do descaso. O descuido já começou a gerar problemas ainda maiores: o teto do banheiro desabou nesta semana e quase atingiu uma das residentes.
Agora, as 54 estudantes e moradoras da Casa, todas vindas do interior do Estado, são obrigadas a dividir os únicos dois banheiros que ainda funcionam – para isso, têm de suportar o mau cheiro de urina que contamina o ambiente.
Qualquer sinal de chuva é motivo de desespero para as meninas. Dos 14 quartos, a maioria fica literalmente alagada. Além de não conseguir dormir por causa das goteiras, as jovens ficam preocupadas com o risco de levar choques nos aparelhos elétricos, em ambientes muitas vezes sem luz, que queimam por causa da água infiltrada, e assustadas com a possibilidade do teto cair a qualquer momento sobre as suas cabeças. Num dos quartos, a porta já caiu, e o forro de PVC ameaça desabar.
“Quando chove, o quarto fica uma lagoa. Quando a gente vê é bom, porque corre para ajeitar, colocar baldes e panelas para evitar alagamentos. Mas quando estamos fora e começa a chover, estraga tudo que é nosso, móveis, cama, tudo”, lamenta Jaqueline Dutra, uma das residentes do dormitório mais danificado.
A situação é tão gritante que o Ministério Público Estadual foi ao local no dia 25 de abril, determinando a reforma urgente. A exigência do MP foi respaldada pela Vigilância Sanitária Estadual, que também esteve no espaço, listou cerca de 70 pontos críticos e informou à presidente da Casa que poderá interditar o espaço caso não sejam feitos os reparos necessários.
Jodeísa Carla tem 24 anos e há três mora na Casa. Ela estuda em cursinho pré-vestibular e saiu de Lagoa de Velhos em busca de uma oportunidade de estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ela fica triste não só em ver que a Casa está abandonada, mas também por saber que o lugar é essencial para muitas jovens que buscam oportunidade de estudar em Natal. “A cada dia se deteriora mais o que deveria servir para nos ajudar a construir nosso futuro”, critica.
Abastecimento é insuficiente
A Casa é presidida pelas próprias moradoras, com eleição feita entre elas. Cada sócia paga uma mensalidade de R$ 25 para fazer frente às despesas com duas cozinheiras e uma auxiliar de serviços gerais.  As contas de água, luz, energia elétrica, a alimentação e os materiais de limpeza são custeados pela Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sethas). Somente para gêneros alimentícios, há um convênio de R$ 150 mil por mês, que provem não apenas a Casa da Estudante, como também outras quatro casas do estudante masculinas, em Natal, Caicó, Mossoró e Jucurutu.

Mesmo assim, a comida que chega é insuficiente. As residentes afirmam que a carne, quando vem, só dura duas semanas. As verduras só dão para 15 pessoas, no máximo. Entretanto, mesmo se viesse na quantidade ideal, não haveria espaço adequado para armazenar os alimentos: o almoxarifado está tomado pelo mofo, e o freezer já não funciona. Os mantimentos que são guardados acabam mofando e indo para o lixo.
Uma das integrantes da direção, Aline Fidelis, de apenas 18 anos, depende diretamente da Casa – onde vive há dois anos – para continuar os estudos em Natal, onde faz cursinho pré-vestibular pela manhã e trabalha, à noite, numa casa de festas infantis. Com o que ganha, ela paga o curso e os dispêndios corriqueiros.  “É a única forma de vir morar em Natal. Meu pai vive em Alexandria com um salário mínimo e não pode me ajudar com as despesas”, diz.
Falta de segurança
A insegurança é outro problema enfrentado pelas jovens. A única ‘proteção’ da casa é um cadeado que fecha o portão da entrada principal. Para aquelas que precisam estudar ou trabalhar à noite, não há alternativa a não ser se sujeitar ao risco de ser assaltada. A própria Aline, que chega do trabalho às 22 horas, já foi vítima de assalto pelo menos cinco vezes.

Com sua fundação datada de 11 de agosto de 1954, a última restauração da casa ocorreu no início de 2004, há cerca de oito anos. Segundo Aline Fidelis, desde o ano passado as moradoras tentam resolver a problemática junto à Sethas, mas não obtiveram nenhum avanço. A pasta alega que não é responsável pela manutenção da estrutura física da Casa. Diante disso, as jovens pretendem realizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa na próxima semana para levar o problema aos deputados estaduais.
Por sua vez, o titular da Sethas, Luiz Eduardo Carneiro, declarou não estar sabendo da situação da Casa, mas se prontificou em receber as estudantes em busca de uma solução, e agendar um encontro para a semana que vem. Contudo, ele faz a ressalva de que o prédio tem natureza privada, não governamental.
“A Casa é um prédio privado. Não existe um órgão responsável pela conservação do prédio do Governo. Sei que em momentos circunstanciais o governo ajudou várias vezes. No orçamento da Sethas não há recurso para manutenção do local. A nossa preocupação é gêneros alimentícios, água e luz. Mas como precisam de uma ajuda do governo, não podemos nos furtar a isso”, admite o secretário.
Como possível saída para o impasse, Luiz Eduardo Carneiro sugere que sejam firmadas parcerias entre outras secretarias e com os municípios de origem das estudantes.
“Se elas vierem agendar uma visita ao gabinete e eu posso coordenar uma reunião com a educação e infra-estrutura. Dificilmente uma secretaria hoje vai assumir a Casa sem uma parceria. Compramos para a masculina e feminina, Caicó, Mossoró e Jucurutu. Lá, por exemplo, o prefeito assume. Todo o pessoal tem origem dos municípios, e eles têm que colaborar também”, cobra o titular da Sethas.
O secretário adjunto da Sethas, Walter Aquino Neto, disse que há três meses a presidente da Casa da Estudante esteve na Sethas. Na ocasião, ele pediu que fosse encaminhado por elas um ofício solicitando a reforma, entretanto, o documento não foi recebido na Secretaria.

Fonte:jornal de hoje

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