Agora, as 54 estudantes e moradoras da Casa, todas vindas do interior do Estado, são obrigadas a dividir os únicos dois banheiros que ainda funcionam – para isso, têm de suportar o mau cheiro de urina que contamina o ambiente.
Qualquer sinal de chuva é motivo de desespero para as meninas. Dos 14 quartos, a maioria fica literalmente alagada. Além de não conseguir dormir por causa das goteiras, as jovens ficam preocupadas com o risco de levar choques nos aparelhos elétricos, em ambientes muitas vezes sem luz, que queimam por causa da água infiltrada, e assustadas com a possibilidade do teto cair a qualquer momento sobre as suas cabeças. Num dos quartos, a porta já caiu, e o forro de PVC ameaça desabar.
“Quando chove, o quarto fica uma lagoa. Quando a gente vê é bom, porque corre para ajeitar, colocar baldes e panelas para evitar alagamentos. Mas quando estamos fora e começa a chover, estraga tudo que é nosso, móveis, cama, tudo”, lamenta Jaqueline Dutra, uma das residentes do dormitório mais danificado.
A situação é tão gritante que o Ministério Público Estadual foi ao local no dia 25 de abril, determinando a reforma urgente. A exigência do MP foi respaldada pela Vigilância Sanitária Estadual, que também esteve no espaço, listou cerca de 70 pontos críticos e informou à presidente da Casa que poderá interditar o espaço caso não sejam feitos os reparos necessários.
Jodeísa Carla tem 24 anos e há três mora na Casa. Ela estuda em cursinho pré-vestibular e saiu de Lagoa de Velhos em busca de uma oportunidade de estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ela fica triste não só em ver que a Casa está abandonada, mas também por saber que o lugar é essencial para muitas jovens que buscam oportunidade de estudar em Natal. “A cada dia se deteriora mais o que deveria servir para nos ajudar a construir nosso futuro”, critica.
Abastecimento é insuficiente
A Casa é presidida pelas próprias moradoras, com eleição feita entre elas. Cada sócia paga uma mensalidade de R$ 25 para fazer frente às despesas com duas cozinheiras e uma auxiliar de serviços gerais. As contas de água, luz, energia elétrica, a alimentação e os materiais de limpeza são custeados pela Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sethas). Somente para gêneros alimentícios, há um convênio de R$ 150 mil por mês, que provem não apenas a Casa da Estudante, como também outras quatro casas do estudante masculinas, em Natal, Caicó, Mossoró e Jucurutu.
Mesmo assim, a comida que chega é insuficiente. As residentes afirmam que a carne, quando vem, só dura duas semanas. As verduras só dão para 15 pessoas, no máximo. Entretanto, mesmo se viesse na quantidade ideal, não haveria espaço adequado para armazenar os alimentos: o almoxarifado está tomado pelo mofo, e o freezer já não funciona. Os mantimentos que são guardados acabam mofando e indo para o lixo.
Uma das integrantes da direção, Aline Fidelis, de apenas 18 anos, depende diretamente da Casa – onde vive há dois anos – para continuar os estudos em Natal, onde faz cursinho pré-vestibular pela manhã e trabalha, à noite, numa casa de festas infantis. Com o que ganha, ela paga o curso e os dispêndios corriqueiros. “É a única forma de vir morar em Natal. Meu pai vive em Alexandria com um salário mínimo e não pode me ajudar com as despesas”, diz.
Falta de segurança
A insegurança é outro problema enfrentado pelas jovens. A única ‘proteção’ da casa é um cadeado que fecha o portão da entrada principal. Para aquelas que precisam estudar ou trabalhar à noite, não há alternativa a não ser se sujeitar ao risco de ser assaltada. A própria Aline, que chega do trabalho às 22 horas, já foi vítima de assalto pelo menos cinco vezes.
Com sua fundação datada de 11 de agosto de 1954, a última restauração da casa ocorreu no início de 2004, há cerca de oito anos. Segundo Aline Fidelis, desde o ano passado as moradoras tentam resolver a problemática junto à Sethas, mas não obtiveram nenhum avanço. A pasta alega que não é responsável pela manutenção da estrutura física da Casa. Diante disso, as jovens pretendem realizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa na próxima semana para levar o problema aos deputados estaduais.
Por sua vez, o titular da Sethas, Luiz Eduardo Carneiro, declarou não estar sabendo da situação da Casa, mas se prontificou em receber as estudantes em busca de uma solução, e agendar um encontro para a semana que vem. Contudo, ele faz a ressalva de que o prédio tem natureza privada, não governamental.
“A Casa é um prédio privado. Não existe um órgão responsável pela conservação do prédio do Governo. Sei que em momentos circunstanciais o governo ajudou várias vezes. No orçamento da Sethas não há recurso para manutenção do local. A nossa preocupação é gêneros alimentícios, água e luz. Mas como precisam de uma ajuda do governo, não podemos nos furtar a isso”, admite o secretário.
Como possível saída para o impasse, Luiz Eduardo Carneiro sugere que sejam firmadas parcerias entre outras secretarias e com os municípios de origem das estudantes.
“Se elas vierem agendar uma visita ao gabinete e eu posso coordenar uma reunião com a educação e infra-estrutura. Dificilmente uma secretaria hoje vai assumir a Casa sem uma parceria. Compramos para a masculina e feminina, Caicó, Mossoró e Jucurutu. Lá, por exemplo, o prefeito assume. Todo o pessoal tem origem dos municípios, e eles têm que colaborar também”, cobra o titular da Sethas.
O secretário adjunto da Sethas, Walter Aquino Neto, disse que há três meses a presidente da Casa da Estudante esteve na Sethas. Na ocasião, ele pediu que fosse encaminhado por elas um ofício solicitando a reforma, entretanto, o documento não foi recebido na Secretaria.
Fonte:jornal de hoje
Nenhum comentário:
Postar um comentário